25/06/06

Fim de semana …descompressão

O almoço
Começarei por dizer que nem sempre são os manjares mais sofisticados que fazem as delícias dos gastrónomos. A cozinha alentejana é disso prova evidente. Que poderá haver melhor do que uma boa sopa de tomate, de preferência comida em Évora num restaurante regional? É um prazer incomensurável e digo-o sem reticências pois de um verdadeiro prazer se trata. Não vivo para comer mas também não me limito a comer para viver. Há que saber apreciar um prato genuíno que não precisa de ser rico para ser bom. E se for regado por um vinho também alentejano melhor ainda. O prazer da mesa , como qualquer outro deve ser saboreado (agora na verdadeira acepção da palavra) lentamente como se fosse o último.
O Café Arcada
A primeira vez que entrei no Café Arcada em Évora foi há mais de trinta e cinco anos. Um dos ex-libris da cidade alentejana o Arcada situa-se na Praça do Giraldo. Era um desses cafés “antigos” que hoje dificilmente encontramos. Nessa altura entrei no café acompanhada por uma amiga um pouco mais velha do que eu. Devo dizer que vínhamos ambas de Lisboa e éramos recém licenciadas. A viagem tinha como objectivo uma pequena comunicação que eu iria fazer no então Colégio do Espírito Santo, hoje Universidade de Évora que versava o tema da minha tese de licenciatura. Já não me lembro em que dia da semana se passaram os acontecimentos que aqui relato, porventura terá sido em dia de mercado. Sei que era de manhã quando entrámos no café. Lá dentro o ambiente era, ou pareceu-me, um pouco soturno para quem vinha de Lisboa e estava habituada a frequentar cafés. À medida que íamos entrando fomo-nos apercebendo que a frequência do café era totalmente masculina. Estava-se no Inverno e só se viam homens com capotes sentados por todo o lado. À nossa entrada fez-se silêncio. Durante algum tempo sentimos que estamos a ser “examinadas” em todo o pormenor. Percebia-se nos olhos dos que nos observavam várias interrogações. Quem são? Quês estão aqui a fazer? Eu, talvez porque sou mais “imaginativa” pensei ler naqueles olhos:”mulheres aqui? Por que carga de água?”. É claro que ninguém disse nada, tudo isto não passaram de especulações da minha mente mas, muito provavelmente não se afastavam muito da realidade.
Volvidas mais de três décadas regresso ao Arcada. Hoje o café foi “modernizado no interior. Tem um grande balcão corrido, muitos empregados. Não tem serviço de mesa e ao fundo, porque o café é amplo, há uma zona de restaurante. Talvez se tenha democratizado mas o espaço mudou tanto que sinto uma certa saudade do velho Arcada mesmo com as suas limitações. É efeito dos tempos.

1 comentário:

menir disse...

Bela passeata! Sim senhor!
Duas achegas: os tempos dos cafés masculinos estão a mudar, o que é engraçado é que quando se insiste as portas abrem-se e somos benvindas (a minha experiência alentejana assim o dita). Digo isto no presente porque ainda abundam pelo país fora alguns redutos tipicamente masculinos (embora mais na secção tasca).
Em relação à comida alentejana, a sua economia de meios é para muitos (inclusivé chefs de renome), marca de requinte.