23/06/07

O ópio do povo



"A imagem pode ser o novo ópio do povo. Vivemos num mundo de reconhecimento, não de conhecimento. Vive-se realmente através do ecran. Os meios de comunicação devem ser objecto de educação, não só um canal de informação. Só se entende a manipulação das imagens ao fazer um filme. Há que aprender a ler, a escrever e também a ler e fazer imagens."


MARC AUGÉ, Antropólogo em entrevista a El Pais em 23/06/07

Da informação ao conhecimento









21/06/07

O Verão começa hoje...



Num dia de Verão

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...

Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?

Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque. é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo..

Alberto Caeiro

18/06/07

Para o meu bichinho

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive


Fernando Pessoa

16/06/07

Loja das Meias


“A Loja das Meias fecha as portas no Rossio ao fim de mais de cem anos.”
Público 16/07/07

Foi com mágoa que tomei conhecimento do encerramento próximo da Loja das Meias. Quem já viveu mais de meio século compreende o que sinto. Aquela loja bem na esquina da Rua Augusta com o Rossio era um verdadeiro ícone da baixa lisboeta, mesmo para os não clientes como era o meu caso. Penso que só uma vez comprei alguma coisa na loja. Foi um bikini dos primeiros que apareceram nos anos 60. Era ainda daqueles em que a parte inferior tinha o aspecto de um calção. Foi uma verdadeira extravagância (devido ao preço) mas ousei fazê-la.
A loja de montras amplas sempre bem decoradas e com modelos agradáveis à vista que não à bolsa constituía um cenário aliciante no largo do Rossio.
A Loja das Meias tinha ainda para mim e, para muita gente da minha geração que viveu e estudou em Lisboa, um outro significado. Era um ponto de referência utilizado para marcar encontros com os amigos e conhecidos. Era frequente ouvir dizer. – Onde nos encontramos? Bem, pode ser na Loja das Meias às tantas.
Ao fim de cerca de 100 anos a Loja das Meias vai fechar. Vai ceder o lugar a uma loja de uma marca. Uma cadeia internacional com produtos iguais em todo o mundo fruto de um gosto formatado. O pior de tudo reside ainda na dificuldade de substituir o antigo ponto de referência. Onde nos encontramos? Na Benetton. Qual delas?

15/06/07

Dia de Portugal ( atrasado)

foi um dos dias escolhidos para dinamizar a candidatura de Sagres a integrar as"7 Maravilhas de Portugal".




Nos passados dias 9 e 10 de Junho realizaram-se na fortaleza de Sagres várias actividades tais como: Cortejos históricos; palestras, feira medieval. Esta última tinha mais de renascentista do que medieval.









Estava também anunciada a “chegada do Infante D. Henrique” que provavelmente terá chegado não sei se vindo do mar ou da terra.
A noite do dia 10 terminou com um concerto do grupo lusófono Sons da fala e logo seguido pelo infalível fogo de artifício.



«Então, lá onde declina a luz sideral, emerge altaneiro o cabo Cinético, ponto extremo da rica Europa, e entra pelas águas salgadas do Oceano povoado de monstros»
Assim se refere Avieno ao cabo de Sagres no século IV d.C. A privilegiada situação geográfica tornou-se estratégica e terá justificado a doação da povoação ao Infante D. Henrique em 1443.
Considero pois que Sagres tem condições para ser considerada uma das 7 maravilhas de Portugal



Comentário muito pessoal


O infante D. Henrique foi uma figura que nunca me agradou. Criei-lhe uma espécie de animosidade. Talvez porque no meu ensino básico se fizeram as Comemorações Henriquinas(1960) e tudo versava à volta do Infante. Acho que enjoei. Mas não foi só o Infante , a cadeira de História da Expansão Portuguesa” que tive na Faculdade de Letras alguns anos mais tarde também não teve melhor fado. Nela se dava primazia às técnicas náuticas utilizadas assim como à necessidade de memorizarmos as descobertas e conquistas juntamente com as datas em que se tinham realizado. Estes factores criaram em mim uma relutância natural por tudo o que se relacionava com a “expansão”.

Só mais tarde quando eu própria comecei a dar aulas senti necessidade de estudar verdadeiramente o assunto e a animosidade foi-se dissipando.