25/03/07

Poema da semana



AS CASAS

As casas vieram de noite
De manhã são casas
À noite estendem os braços para o alto
fumegam vão partir

Fecham os olhos
percorrem grandes distâncias
como nuvens ou navios

As casas flúem de noite
sob a maré dos rios

São altamente mais dóceis
que as crianças
Dentro do estuque se fecham
pensativas

Tentam falar bem claro
no silêncio
com sua voz de telhas inclinadas


JORGE, Luíza Neto – Os Sítios Sitiados. Plátano Editora, 197

17/03/07

Conversas




Enquanto esperava o início de uma representação teatral.

- Então por onde tens andado? Já estás a trabalhar? – Sim. Disse um rapaz bastante novo.
- Acabei o curso e comecei a trabalhar.
- Estás a gostar? Perguntou-lhe a rapariga quase da mesma idade.
- Estás a recibos verdes é claro?
- Não. Recebo sem recibo e mesmo assim ia ficando sem emprego um dia destes.
- Então porquê? Perguntou a rapariga.
- Precisei de faltar e estava a ver que me punham na rua. Mas depois comprei um atestado médico e o problema resolveu-se…

Assim vai o país!!!

12/03/07

Poema da semana



JARDIM VERDE

Jardim verde e em flor, jardim de buxo
Onde o poente interminável arde
Enquanto bailam lentas as horas da tarde.
Os, narcisos ondulam e o repuxo,
Voz onde o silêncio se embala,
Canta, murmura e fala
Dos paraísos desejados,
Cuja lembrança enche bailados
A clara solidão das tuas ruas.
Sophia de Mello Breyner Andresen

08/03/07

Ainda o Dia da Mulher







Dia Internacional da Mulher

Hoje recebi uma flor no café que frequento. É o Dia Internacional da Mulher. Mais um dia da mulher, é uma efeméride que entrou no calendário. Como as outras de dias de isto e daquilo, rapidamente perdeu o seu significado em favor de um negocio consumista cada vez mais alargado. O dia da mulher pretende assinalar a luta da mulher pela defesa dos seus direitos e pelo reconhecimento dos mesmos direitos pela sociedade. Tão cedo a mulher deixasse de ser descriminada, violentada, desconsiderada, assim esta comemoração deixaria de ter sentido.



05/03/07

Violência nas escolas



Nos últimos dias têm vindo a lume várias notícias de agressão a professores. Não sei se este tipo de situações se tornou mais visível se mais frequente. A recorrência destas notícias tem levado os jornalistas a debruçarem-se um pouco mais sobre o assunto. O Público de hoje diz que “enviou à Ministra da Educação algumas questões sobre a indisciplina e a violência escolar”. A Ministra respondeu enviando um texto compacto. Sem deixar de referir a necessidade de reforçar a autoridade das escolas e dos professores, Maria de Lurdes Ribeiro chama a atenção para o facto de ser perigoso “generalizar” casos que considera pontuais.
Gostaria que a Sr.a Ministra fizesse um exame de consciência e analisasse em que medida a acção do seu ministério pode ter contribuído para o agravamento desta violência. Há muitas e variadas causas na base dos comportamentos violentos por parte de alunos e seus familiares em relação aos professores. Longe de mim responsabilizar o ministério por todas elas. Não posso, no entanto deixar de apontar as responsabilidades que competem a este governo. Pressionado por questões económicas e pela necessidade de aumentar os níveis de sucesso no ensino, o governo promoveu ( impôs de uma forma dirigista) uma “reforma” desajustada. É lugar comum dizer-se que as reformas da educação só resultam se forem feitas com os professores As reformas do actual governo têm sido feitas à revelia e até, nalguns casos contra os professores. Por outro lado, o Ministério da Educação, tem desenvolvido uma táctica de discredibilização dos professores. Com professores descontentes e pouco motivados e com a culpabilização e o descrédito a que estão sujeitos é natural que se tornem alvos mais apetecíveis para alguma marginalidade que também grassa nas escola.
Sugiro à Sra. Ministra que veja, por exemplo, o que se passa em Espanha(Professores mais protegidos) e tire daí ensinamentos para a sua acção futura.

04/03/07

Poema da semana

Os deuses são felizes.
Vivem a vida calma das raízes.
Seus desejos o Fado não oprime.


Ou, oprimindo, redime.
Com a vida imortal.
Não há
Sombras ou outros que os contristem,
E, além disto, não existem…

Fernando Pessoa