Um muro de nuvens densas
Põe na base do ocidente
Negras roxuras pretensas
Com a noite tudo acaba.
O céu frio é transparente.
Nada de chuva desaba.
E não sei se tenho pena
Ou alegria da ausente
Chuva e da noite serena.
De resto, nunca sei nada.
Minha alma é a sombra presente
De uma presença passada.
Meus sentimentos são rastros.
Só meu pensamento sente…
A noite esfria-se de astros.
Fernando Pessoa
18/6/1929
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