06/06/08

Noite



Um muro de nuvens densas
Põe na base do ocidente
Negras roxuras pretensas


Com a noite tudo acaba.
O céu frio é transparente.
Nada de chuva desaba.


E não sei se tenho pena
Ou alegria da ausente
Chuva e da noite serena.


De resto, nunca sei nada.
Minha alma é a sombra presente
De uma presença passada.


Meus sentimentos são rastros.
Só meu pensamento sente…
A noite esfria-se de astros.


Fernando Pessoa
18/6/1929

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