29/06/06

Promoções interessantes !!!

As promoções e a publicidade são cada vez mais agressivas. As revistas dão sacos, toalhas, t-shirts. Os jornais dão talheres, cartas. O produto que se vende deixa de ter importância e acaba por ser vendido porque traz um brinde mais apetecível. Esta é a sociedade de consumo desenfreado em que vivemos. Mas nesta sociedade alienante por vezes há situações que ainda me surpreendem pela positiva. Um dia destes fui a um supermercado para comprar iogurtes. Uma marca assaz conhecida faz as suas promoções oferecendo pequenas bolsas que servem para conservar os seus produtos, outras vezes são lenços, pulseiras, etc. Desta vez porém o brinde era diferente. Cada conjunto de iogurtes (acho que 6) trazia acoplado um livro de bolso. Livros que foram transformados em filmes. Havia títulos como Sete anos no Tibete, Uma aventura feliz, Adeus minha concubina, Paixão em Florença. Em suma alimentar o espírito enquanto o corpo se abastece.

Livros e leituras

Este livro de Mia Couto inicia um tipo de romance diferente dos anteriores. Tem a curiosidade de se passar em duas épocas distintas na actualidade e no século XVI. Não são porém duas narrativas independentes. Quando iniciei a leitura senti um certo receio de não vir a gostar dos livros. A ficção de Mia Couto tem-me sempre fascinado mas tendo lido uma entrevista em que o próprio autor alertava para o carácter diferente desta sua última obra, fiquei apreensiva. Quando iniciei a leitura da obra fiquei sem dúvidas e rapidamente “galopei” até ao final. O autor pode não “inventar”tantas palavras como nos outros livros. O que está lá sempre é o imaginário africano, a simplicidade autêntica do vocabulário, a escrita do sentimento e da imaginação.
“O escravo pediu para que, caso adoecesse gravemente, o deixassem abraçar Nossa Senhora antes de ser lançado ao mar.
- Tens medo de morrer?
- Não é morrer que me dói. O que me dá tristeza é ficar morto.” (pag. 66)

“ A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa.” ( pag.77)

“- Passou-se alguma coisa com a mãe?
- Não, é comigo.
- E o que se passa consigo?
- Sabe como eu me chamo nestes ultimamentes?
……………………………………………………….
- Jesustino! Agora chamo-me Jesustino.
No ano passado, ele tinha sido Ildefonso. Já fora Agnelo, Salvador. E muitos, muitos outros. Desde que casara, mudava de nome em cada aniversário. O argumento era que, assim, em trânsito nominal, acabaria vivendo mais tempo.”(pag.83)

“A vida são golpes, costuras e pontes.”(pag.87)

“- Lembra-se do tempo em que eu passava tardes e tardes costurando?
- Lembro-me mãe. Eram tantas filhas, tantas roupas?
- A maior parte das vezes, eu só fingia que costurava.
- Fingia? Fingia para quê?
Os homens não gostam que as mulheres pensem em silêncio. Nascem-lhes suspeitas.
- Enquanto ia costurando, o seu pai não imaginava que eu estava pensando. Minha cabeça viajava por todo o lado.
Nesses escassos momentos, Constança era mulher sem ter que pedir licença, existindo sem ter que pedir perdão.” (pag.92)

“ Os ricos enriquecem, os pobres empobrecem.
E os outros, os remediados, vão ficando sem remédio.”
( O Barbeiro de Vila Longe) (pag.211)

“De regresso à Vila, abriu a barbearia. Todos se espantaram: como é que um homem tão letrado aceitava uma ocupação tão modesta? Só depois se soube: a barbearia é um lugar em que se reduz o cabelo e crescem as línguas. É um bazar de conversas, um mercado de mexericos. ( pag.213)

“A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós.” (pag.223)

28/06/06

2ªvida

Sete anos de pastor Jacó servia
................................................
Camões

Não foram 7 anos mas 8 meses inteiros que aguardei ansiosamente a carta que me anunciaria a aposentação. Finalmente chegou o dia há tanto esperado. Não sei se gosto desta palavra aposentação acho que reforma está mais de acordo com o que penso. Reforma significa dar nova forma, melhorar corrigir. Hoje inicio a minha segunda vida talvez menos agitada mas com planos q. b.


26/06/06

Nova semana...


Brisa do dia
" De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos ".

Fernando Pessoa

25/06/06


A Feira de S. João


Fim de semana …descompressão

O almoço
Começarei por dizer que nem sempre são os manjares mais sofisticados que fazem as delícias dos gastrónomos. A cozinha alentejana é disso prova evidente. Que poderá haver melhor do que uma boa sopa de tomate, de preferência comida em Évora num restaurante regional? É um prazer incomensurável e digo-o sem reticências pois de um verdadeiro prazer se trata. Não vivo para comer mas também não me limito a comer para viver. Há que saber apreciar um prato genuíno que não precisa de ser rico para ser bom. E se for regado por um vinho também alentejano melhor ainda. O prazer da mesa , como qualquer outro deve ser saboreado (agora na verdadeira acepção da palavra) lentamente como se fosse o último.
O Café Arcada
A primeira vez que entrei no Café Arcada em Évora foi há mais de trinta e cinco anos. Um dos ex-libris da cidade alentejana o Arcada situa-se na Praça do Giraldo. Era um desses cafés “antigos” que hoje dificilmente encontramos. Nessa altura entrei no café acompanhada por uma amiga um pouco mais velha do que eu. Devo dizer que vínhamos ambas de Lisboa e éramos recém licenciadas. A viagem tinha como objectivo uma pequena comunicação que eu iria fazer no então Colégio do Espírito Santo, hoje Universidade de Évora que versava o tema da minha tese de licenciatura. Já não me lembro em que dia da semana se passaram os acontecimentos que aqui relato, porventura terá sido em dia de mercado. Sei que era de manhã quando entrámos no café. Lá dentro o ambiente era, ou pareceu-me, um pouco soturno para quem vinha de Lisboa e estava habituada a frequentar cafés. À medida que íamos entrando fomo-nos apercebendo que a frequência do café era totalmente masculina. Estava-se no Inverno e só se viam homens com capotes sentados por todo o lado. À nossa entrada fez-se silêncio. Durante algum tempo sentimos que estamos a ser “examinadas” em todo o pormenor. Percebia-se nos olhos dos que nos observavam várias interrogações. Quem são? Quês estão aqui a fazer? Eu, talvez porque sou mais “imaginativa” pensei ler naqueles olhos:”mulheres aqui? Por que carga de água?”. É claro que ninguém disse nada, tudo isto não passaram de especulações da minha mente mas, muito provavelmente não se afastavam muito da realidade.
Volvidas mais de três décadas regresso ao Arcada. Hoje o café foi “modernizado no interior. Tem um grande balcão corrido, muitos empregados. Não tem serviço de mesa e ao fundo, porque o café é amplo, há uma zona de restaurante. Talvez se tenha democratizado mas o espaço mudou tanto que sinto uma certa saudade do velho Arcada mesmo com as suas limitações. É efeito dos tempos.

23/06/06

"O sol é grande: caem co'a calma as aves,"

Gordura é formosura !!!

Hoje da manhã fui, como de costume, até ao café ler o jornal e pôr as ideias em ordem. Estava já muito calor e, daqui para a frente vai ser sempre assim ou pior. Com o calor começamos a desembaraçar-nos progressivamente das roupas mais quentes. As jovens e por vezes até as que o são menos, mantêm as calças de gAanga mas por cima vestem T-shirts e tops todos eles bastante curtos. É uma atitude inteligente que se coaduna com a calma que se faz sentir. No entanto, sob o ponto de vista estético é, na maior parte dos casos, um verdadeiro desastre. Entre as calças e os tops espreitam uns volumes pouco elegantes de se ver (mais conhecidos por “pneus”) e que traduzem geralmente uma alimentação errada. Se ao menos olhassem atentamente ao espelho antes de saírem certamente modificariam os seus hábitos alimentares. Ultimamente os media têm noticiado como a obesidade está a aumentar e não só nos países mais industrializados. A obesidade infantil é já um problema assim com entre os adolescentes. É necessário encarar este problema de frente e consciencializar as novas gerações dos perigos que advêm de uma má alimentação
Aqui vai uma achega

Brisa do dia

O sol é grande: caem co'a calma as aves,

Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.

Esta água que de alto cai acordar-me-ia,

Do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas todas vãs, todas mudaves,

Qual é tal coração que em vós confia?

Passam os tempos, vai dia trás dia,

Incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,

Vi tantas águas, vi tanta verdura,

As aves todas cantavam de amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mistura,

Também mudando-me eu fiz doutras cores.

E tudo o mais renova: isto é sem cura!


Sá de Miranda

22/06/06

Estados de alma II

Começou o Verão


mas eu sinto o Inverno

Brisa do dia

“E, hoje, pensando no que tem sido a minha vida, sinto-me um qualquer bicho vivo, transportado num cesto de encurvar o braço, entre duas estações suburbanas. A imagem é estúpida, porém a vida que defini é mais estúpida ainda do que ela.”

Fernando Pessoa

21/06/06

O passar dos dias



Rebentação

A Sra Ministra da Educação diz que se fosse professora também se sentiria descontente com as actuais medidas governamentais. Pois eu que sou professora não me sinto descontente mas desencantada desmotivada e revoltada.

Vaga de fundo

El desierto del mundo

A través de la ventana (que son mis ojos)

veo el desierto del mundo

y miro lo que puedo, lo que sé mirar:

¿qué fuera yo si no fuera lo que soy?,

¿qué soy en este desiertos

sino un cactus, un animal salvaje,

un insecto más?

¿Sería acaso el sol enfermizo,

el veneno de los alacraneso

el silencio devastador?

Descendiendo las escaleras del tiempo

no arribo a ninguna parte,

por eso me callo, por eso me voy...

Cierro la ventana

y me encierro en la oscuridadde

mi espíritu.

Julio César Aguilar (poeta mexicano)

Brisa do dia

"Estou para aqui todo(a) crepusculado(a)"

Mia Couto

19/06/06


No Público de ontem o Dr. António Borges, EX-DEAN DO INSEAD, EM FONTAINEBLEAU, FRANÇA; MEMBRO DO CONSELHO DE GOVERNADORES DO WELLINGTON COLLEGE, EM INGLATERRA E MEMBRO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE BOCCONI, EM ITÁLIA escreveu um artigo subordinado ao título Educação, professores e avaliação. Neste artigo o distinto economista começa por fazer um rasgado elogio à Srª Ministra da Educação pela sua acção para combater o insucesso educativo. É pena, no entanto, que não esteja devidamente informado sobre o que se tem vindo a passar. Considera que “ a grande controvérsia que hoje impera no mundo da educação resulta de a ministra ter afirmado que os professores também são responsáveis pelo insucesso escolar. Mais à frente refere “Ao recusarem a avaliação, os professores – ou alguns deles-estão a prestar um péssimo serviço aos seus alunos”. Sr Dr. a verdadeira controvérsia não é essa mas sim atitude desnecessariamente arrogante e prepotente que começa por destruir (os professores e o seu profissionalismo e dignidade ) para depois construir. A sra. Ministra o que disse é que os professores são os responsáveis e não que também são responsáveis pelo insucesso. Mais uma vez digo e sem ter receio de me repetir que as generalizações são muito perigosas. Tão perigosas que fizeram duma ministra que poderia modificar o sistema educativo com a colaboração dos professores, uma governante isolada dificilmente tolerável.
Esta é a razão porque não escrevo artigos de opinião sobre economia!!!

14/06/06

Para sul







Rumo ao promontório sacro

"VÍTIMAS"


Acerca das críticas feitas aos parlamentares que mudaram os seus trabalhos do dia 21 devido ao Mundial de futebal a drª Manuela Ferreira Leite disse que “essas críticas só provam que os deputados são as pessoas mais mal amadas do país” . Esta afirmação é curiosa. A senhora deputada que também já foi Ministra da Educação sente-se “vítima.” Muito me apraz registar este estado de alma da Drª. É bom que sinta na pele aquilo que numa escala mais bem mais alargada sentem os professores. Os professores também se sentem injustiçados e também são “vítimas” de generalizações abusivas. Há bons professores e há maus professores. Tal como há bons e maus deputados e ninguém tem direito de generalizar. A senhora deputada sente-se injustiçada mas sabe que o Ministro dos Assuntos Parlamentares não irá certamente seguir essa opinião e não irá atacar os deputados chamando-lhes incompetentes e pouco trabalhadores. É aí que reside a diferença entre nós.

12/06/06

Dia Mundial contra o Trabalho Infantil


Todos os dias são dias deste combate!

08/06/06

Estado de alma

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Álvaro de Campos

05/06/06